
BETS: diversão ou armadilha? O que diz a lei sobre as apostas esportivas no Brasil
Nos últimos anos, as chamadas BETS se tornaram parte do cotidiano de milhões de brasileiros. A prática, que antes estava à margem da lei, foi recentemente regulamentada no Brasil, despertando debates sobre os limites entre diversão, vício e responsabilidade jurídica. O objetivo deste artigo é analisar de forma crítica esse fenômeno.
Priscila Tostes
8/21/20253 min read
Nos últimos anos, as chamadas BETS — casas de apostas esportivas online — se tornaram parte do cotidiano de milhões de brasileiros. Basta ligar a televisão em dia de futebol ou navegar pelas redes sociais para se deparar com propagandas que prometem ganhos fáceis e rápidos.
A prática, que antes estava à margem da lei, foi recentemente regulamentada no Brasil, despertando debates sobre os limites entre diversão, vício e responsabilidade jurídica. O objetivo deste artigo é analisar de forma crítica esse fenômeno, destacando tanto o aspecto social quanto os pontos jurídicos que envolvem as apostas esportivas.
O que são as BETS e por que cresceram tanto?
As BETS são plataformas que permitem ao usuário apostar em resultados de eventos esportivos, jogos de cassino e outros tipos de competições. O apostador escolhe um resultado específico e, caso acerte, recebe de volta o valor apostado multiplicado pelas probabilidades oferecidas pela casa. O crescimento desse mercado no Brasil foi impulsionado por três fatores principais:
Acesso facilitado: basta ter um celular e uma conta de PIX para movimentar dinheiro em segundos.
Publicidade agressiva: influenciadores, e até atletas famosos estampam marcas de casas de apostas em seus uniformes.
Atrativo psicológico: a promessa de lucro rápido e a emoção de apostar em tempo real criam um ambiente sedutor.
Os riscos sociais e psicológicos das apostas
O discurso de que as apostas são apenas “entretenimento” ignora os efeitos reais que elas têm na vida das pessoas. Cada vez mais surgem relatos de jovens endividados, famílias em crise e até fraudes financeiras relacionadas às bets.
O grande problema é a exposição constante: diferente da loteria tradicional, que ocorre em datas específicas, as apostas esportivas estão disponíveis 24 horas por dia, aumentando o risco de comportamento compulsivo. A facilidade de transferir dinheiro via PIX faz com que a perda se torne quase imperceptível, até que a dívida já esteja fora de controle.
Além disso, há um impacto psicológico significativo: a ilusão de controle, a crença de que “na próxima vou recuperar o que perdi”, é o que alimenta um ciclo vicioso semelhante ao da dependência química.
O aspecto jurídico das BETS no Brasil
Do ponto de vista jurídico, o marco inicial foi a Lei nº 13.756/2018, que autorizou as apostas esportivas de quota fixa. Contudo, a regulamentação efetiva só aconteceu em 2023, quando o governo passou a disciplinar a cobrança de impostos, a exigência de licenciamento e as regras de operação no território nacional.
Hoje, para atuar legalmente, as casas de apostas precisam obter autorização do Ministério da Fazenda, respeitar normas de transparência e contribuir com tributos específicos. O objetivo é garantir maior controle estatal, evitar lavagem de dinheiro e proteger o consumidor.
Ainda assim, a regulamentação não encerra as controvérsias jurídicas. Questões como a responsabilidade civil das plataformas permanecem em aberto:
O que fazer quando a publicidade induz o consumidor ao erro?
Quem responde por falhas nos pagamentos?
Como garantir proteção a menores de idade e pessoas vulneráveis?
Esses pontos mostram que a discussão jurídica está apenas começando.
A crítica: legalização não resolve tudo
É inegável que a regulamentação das bets trouxe mais segurança jurídica, mas isso não significa que o problema esteja resolvido. O mercado continua crescendo de forma agressiva, e os impactos sociais não podem ser ignorados. Há também uma questão ética: transformar o esporte, símbolo de saúde e integração social, em vitrine para jogos de azar. Quando grandes clubes de futebol se associam a casas de apostas, passam ao torcedor a mensagem de que apostar é parte natural da experiência esportiva.
O resultado é previsível: quem mais sofre são os economicamente vulneráveis, justamente aqueles que veem na promessa de “dinheiro fácil” uma saída para suas dificuldades financeiras. Nesse sentido, as bets se aproximam de produtos como o álcool e o cigarro — são legais, mas carregam riscos sérios que exigem políticas de conscientização e controle.
Conclusão
As apostas online não são apenas uma forma de lazer, mas um fenômeno que envolve riscos econômicos, psicológicos e jurídicos. A regulamentação é um passo importante, mas insuficiente diante do impacto social.
Mais do que arrecadar impostos, o Estado precisa investir em fiscalização, campanhas de conscientização e políticas de prevenção ao vício em jogos de azar. O consumidor, por sua vez, deve compreender que, por trás da promessa de lucro rápido, muitas vezes se esconde uma armadilha. Afinal, quando a diversão se mistura com a possibilidade de perda financeira ilimitada, a linha entre o entretenimento e a destruição pessoal fica tênue demais para ser ignorada.


